domingo, 1 de setembro de 2013

EU NÃO GOSTO DE MINHA MÃE*


Hoje, estou lembrando-me da minha época de estudante, recordando-me de todos os meus amigos da rua brincando, e eu indo para casa desesperado para estudar, pois tinha mais de 20 perguntas, elaboradas com a maior frieza, para aprender e decorar. Quem elaborava tais perguntas? Você, minha mãe, que pegava os assuntos, lia antes de mim e preparava as mais difíceis questões. Tudo bem que às vezes você colocava as respostas para facilitar, mas vinte perguntas não era demais?
Tinha que aprender antes das cinco, já que, mesmo cansada, quando você chegava do trabalho, ainda ia me sabatinar e o que é pior, as perguntas eram fora da ordem.

Você não tinha pena nem quando eu estava com sono e ao invés de dormir ao som de uma musica de ninar, dormia ouvindo o que é uma mitocôndria ou o que são falácias.
Houve um dia em que dormi no seu colo e ao ser chamado para ir para a cama, levantei como um sonambulo e errei o local da escada, fiquei tentando subir pelas paredes. Você me reclamou dizendo que eu estava errado que ali não era a escada, eu ainda dormindo e zangado lhe disse:

- Você quer que eu acerte tudo, não posso errar nada?

Tudo bem, tudo isso passa. Agora, lembra-se do dia que te falei que passei de ano que iria para o primeiro ano do segundo grau? Pensei:
- Férias, não vou tocar nos livros!

 Ledo engano. Para minha surpresa, tive que estudar quase que diariamente matemática da 5ª a 8ª serie. Qual foi a solução encontrada por mim para amenizar meu sofrimento? Convidei, gentilmente, meus amigos para estudarem comigo, uns nem apareceram e outros não passaram da terceira aula.
Pronto, agora sim, adolescência. Era só esperar os fins de semana e ir para a praça cair na gandaia. Enganei-me mais uma vez. Você me fez ir morar em Salvador longe dos meus amigos com apenas 14 anos. Poderia ter sofrido um acidente, ser assaltado ou até sequestrado.

 Só tinha direito a, no máximo, dois finais de semana por mês em Serrinha, e nestes, quando eu ia de volta a Salvador, sempre embarcava no último ônibus. Você me acompanhava até a porta e corria para o contorno para do carro me dar o último tchau. Seria isso o cúmulo da maldade? Acho que não, mas me fazia chorar até adormecer. Pior ainda era minha mala: um bocapiu pesado e cheio de comida.
Você nunca me deixou em paz, nunca me deixou ser feliz, nunca fui livre. Você estava em todas as reuniões das escolas, conversava sempre com as professoras, cobrava meus boletins, até em Salvador queria acompanhar.

A senhora não apostou em mim, pois acho que uma mãe jamais apostaria em uma criança. A senhora não agia nem pela razão, nem pela emoção. Agia movida por algo muito maior, talvez uma premonição ou uma intuição que só as mães possuem.
A senhora já sabia que eu iria crescer, estudar, ter uma formação e uma profissão.

Quanto aos estudos, só tenho a lhe agradecer, principalmente pela cobrança que parecia exagerada, mas que me fez terminar a educação básica sem fazer se quer uma recuperação.
Quanto aos estudos de matemática nas férias, só me fez criar mais amor pelas ciências exatas e tirar meu primeiro dez no colégio Drummond em Salvador.

Ir pra Salvador me fez evoluir em tudo, tornou-me mais responsável, também me fez conhecer Ciça, com quem casei e juntos te demos um neto maravilhoso.
O tchau era a mão de Deus me abençoando e me protegendo do mal.

O bocapiu era o sinônimo do carinho e da proteção, pois todas as vezes que fazia um suco, lembrava da senhora espremendo as frutas para fazer polpa saudável e natural, também tinha leite, carne e etc.
A sua presença em todos os momentos dos meus estudos trouxe-me uma motivação extra, pois além de querer me superar precisava te mostrar que todo seu suor não foi derramado em vão.

Mãe, eu não gosto de ti, simplesmente porque TE AMO.
Acho que dessa historia toda, você só não sabia que eu voltaria pra casa e moraria ao seu lado.

 
Obrigado MÃE.

 
08/05/2011.

*escrito em 2011 (dia das mães)

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