Hoje, estou lembrando-me
da minha época de estudante, recordando-me de todos os meus amigos da rua
brincando, e eu indo para casa desesperado para estudar, pois tinha mais de 20
perguntas, elaboradas com a maior frieza, para aprender e decorar. Quem
elaborava tais perguntas? Você, minha mãe, que pegava os assuntos, lia antes de
mim e preparava as mais difíceis questões. Tudo bem que às vezes você colocava
as respostas para facilitar, mas vinte perguntas não era demais?
Tinha que
aprender antes das cinco, já que, mesmo cansada, quando você chegava do
trabalho, ainda ia me sabatinar e o que é pior, as perguntas eram fora da
ordem.
Você não tinha
pena nem quando eu estava com sono e ao invés de dormir ao som de uma musica de
ninar, dormia ouvindo o que é uma mitocôndria ou o que são falácias.
Houve um dia em que dormi no seu
colo e ao ser chamado para ir para a cama, levantei como um sonambulo e errei o
local da escada, fiquei tentando subir pelas paredes. Você me reclamou dizendo que
eu estava errado que ali não era a escada, eu ainda dormindo e zangado lhe
disse:- Você quer que eu acerte tudo, não posso errar nada?
Tudo bem, tudo isso passa. Agora,
lembra-se do dia que te falei que passei de ano que iria para o primeiro ano do
segundo grau? Pensei:
- Férias, não vou tocar nos livros!
Ledo engano. Para minha surpresa, tive que
estudar quase que diariamente matemática da 5ª a 8ª serie. Qual foi a solução
encontrada por mim para amenizar meu sofrimento? Convidei, gentilmente, meus
amigos para estudarem comigo, uns nem apareceram e outros não passaram da
terceira aula.
Pronto, agora sim, adolescência. Era
só esperar os fins de semana e ir para a praça cair na gandaia. Enganei-me mais
uma vez. Você me fez ir morar em Salvador longe dos meus amigos com apenas 14
anos. Poderia ter sofrido um acidente, ser assaltado ou até sequestrado.
Só tinha direito a, no máximo, dois finais de
semana por mês em Serrinha, e nestes, quando eu ia de volta a Salvador, sempre embarcava
no último ônibus. Você me acompanhava até a porta e corria para o contorno para
do carro me dar o último tchau. Seria isso o cúmulo da maldade? Acho que não,
mas me fazia chorar até adormecer. Pior ainda era minha mala: um bocapiu pesado
e cheio de comida.
Você nunca me deixou em paz,
nunca me deixou ser feliz, nunca fui livre. Você estava em todas as reuniões das
escolas, conversava sempre com as professoras, cobrava meus boletins, até em
Salvador queria acompanhar.
A senhora não apostou em mim,
pois acho que uma mãe jamais apostaria em uma criança. A senhora não agia nem
pela razão, nem pela emoção. Agia movida por algo muito maior, talvez uma premonição
ou uma intuição que só as mães possuem.
A senhora já sabia que eu iria crescer,
estudar, ter uma formação e uma profissão.
Quanto aos estudos, só tenho a
lhe agradecer, principalmente pela cobrança que parecia exagerada, mas que me
fez terminar a educação básica sem fazer se quer uma recuperação.
Quanto aos estudos de matemática nas
férias, só me fez criar mais amor pelas ciências exatas e tirar meu primeiro
dez no colégio Drummond em Salvador.
Ir pra Salvador me fez evoluir em
tudo, tornou-me mais responsável, também me fez conhecer Ciça, com quem casei e
juntos te demos um neto maravilhoso.
O tchau era a mão de Deus me
abençoando e me protegendo do mal.
O bocapiu era o sinônimo do
carinho e da proteção, pois todas as vezes que fazia um suco, lembrava da
senhora espremendo as frutas para fazer polpa saudável e natural, também tinha
leite, carne e etc.
A sua presença em todos os momentos
dos meus estudos trouxe-me uma motivação extra, pois além de querer me superar
precisava te mostrar que todo seu suor não foi derramado em vão.
Mãe, eu não gosto de ti,
simplesmente porque TE AMO.
Acho que dessa historia toda, você
só não sabia que eu voltaria pra casa e moraria ao seu lado.
08/05/2011.
*escrito em 2011 (dia das mães)
Show, me emocionei e tudo rsrsrsrs, sábias palavras Binha.
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